GOGÓ DA EMA
“Ema, ema, saquarema, cada um com seus ‘pobrema’”. Nem pensar!!!!!!!!
Convido-o a ler o poema e a crônica abaixo e a expressar sua opinião.
Convido-o a ler o poema e a crônica abaixo e a expressar sua opinião.
O famoso coqueiro "Gogó da Ema" nos idos de 1950
Ema, Ema, Saquarema,
ofereço-te um poema.
Que força te deu a forma
que até os sábios desafia,
que te distingue no horizonte,
e de tuas irmãs te distancia.
Ema, Ema, Saquarema...
Altiva, aos ventos resistes,
intempestiva, lança-te ao mar,
elegante, te destacas,
sem querer, nem pensar.
Ema, Ema, Saquarema...
Teimosa e irreverente,
és filha pródiga resoluta,
ousada abre caminhos,
sem querer, nem ponderar.
sem querer, nem ponderar.
Ema, Ema, Saquarema,
guardo-te em um poema.
Paisagem perdida no tempo,
de ti só resta lamento,
suspiro em contratempo,
melancolia sem contento.
Cláudia S. Coelho
Em virtude de meu trabalho atual, tenho tido a sorte de travar contato com professores, acadêmicos, pesquisadores, amantes da escrita... de todo o Brasil - idealistas que fazem uso da palavra para expressar sua criatividade e visão de mundo – verdadeiros Cavaleiros das Letras.
A despeito da alcunha de colaboradores – pois hoje esse termo tornou-se um eufemismo para “funcionário” - o que a meu ver levou grande parte das editoras a inverterem os papéis, acreditando que os ditos “colaboradores” delas dependem, quando a realidade é exatamente o oposto - “O que seria dos meios de comunicação, em especial, os meios impressos se não contassem com a boa vontade desses “Dom Quixotes”?” - pessoas que, por vezes, abrem mão de um passeio em um domingo de sol, movendo “mundos e fundos” (desculpem o lugar-comum) para nos presentear com aquilo que têm de melhor – seu conhecimento.
Bem, após meu momento político, gostaria de compartilhar com vocês um fato que só demonstra a diversidade e a riqueza cultural de nosso país.
Dias atrás, encaminhei por e-mail um texto que havia editado para um de meus colaboradores a fim de que ele o revisasse:
A partir de agora vou utilizar o termo parceiro, pois acredito que ele exemplifique a relação que tenho a maior parte de meus “colaboradores”.
Bem, meu querido amigo e parceiro das Alagoas me respondeu que apesar do “gogo na garganta” poderia atender a meu pedido. Eu, como boa paulistana, achei, a princípio que ele tivesse se esquecido de incluir o acento agudo ao termo “gogo”. Mesmo assim, fiquei encafifada: gogó (palavra que, de modo geral, usamos para nos referir à garganta” não fazia sentido naquele contexto. Intrigada e movida por minha ansiedade latente peguei o telefone para falar “pessoalmente” com meu parceiro:
-Olá, Roberto. Como vai?
-Bem, tirando o gogo [gôgo] na garganta.
Acreditei que fosse uma questão de pronúncia regional, quem sabe o “ ‘gôgo’ na garganta”, não fosse uma forma de enfatizar o problema. Mesmo assim perguntei:
- “ ‘Gôgo’ ou gogó? Você não se esqueceu de acrescentar o acento agudo?
Roberto riu a valer, ou seja, riu o quanto o “gôgo” lhe permitiu e, com aquele sotaque musical dos alagoanos, como bom professor me explicou:
- É “Gôgo”, Cláudia. “Gôgo” quer dizer minhoca. Quem riu à beça, então, fui eu. Imagine o que é ter um “gôgo” passeando pelo gogó.
Fiquei com essa imagem na cabeça, até, porque, o tal do “gôgo”, no dia seguinte se instalou em minha garganta.
E, então, conversa vai, conversa vem; texto vai, texto vem, comecei a perceber o quanto o falar típico de Roberto estava presente em seus artigos e lhes imprimia um toque e uma visão singular, que eu como editora não me permiti modificar.
E qual não foi minha surpresa ao receber desse amante das letras, dias depois, um e-mail intitulado: Gogó da Ema, o qual transcrevo abaixo:
“Já ouviu falar do Gogó da Ema (gogó, com acento agudo, e não "gogo")? Foi um famoso coqueiro que fazia uma curva parecendo uma ema e seu gogó. Esse coqueiro imortalizou Maceió, foi cantado em verso, pintado, fotografado; chegou a virar nome de cachaça. Era uma curiosidade e atraiu muita gente, de vários lugares. Todo mundo queria conhecer o Gogó da Ema.
Ficava na Praia de Ponta Verde, que, na época, era uma praia selvagem, desértica, cheia de sítios e moradias humildes de pescadores no entorno. Hoje é uma praia totalmente urbanizada, com edifícios elegantes e luxuosos em sua orla, com ruas movimentadas, lojas, restaurantes. É o chamado bairro dos novos-ricos. Você conhece logo um novo-rico, porque ele quer morar - e faz questão de morar - em Ponta Verde.
Imagens atuais da praia de Ponta Verde
Os poucos pobres remanescentes de outras épocas que ainda existem no bairro estão se sentindo obrigados a mudar de residência, para bairros mais distantes, porque o estilo de vida deles não combina mais com o ambiente social que se formou desde a década de 80, quando o bairro começou a se transformar. Mas você ainda encontra lado a lado edifícios luxuosos e habitações mais simples, como prova da nossa contradição social - o monstro capitalista engolindo e devorando o mais fraco...”
A história sobre Gogó da Ema exerceu tamanha impressão em mim - a ponto de publicar este post -, pois me fez lembrar a praia de São Lourenço, no litoral norte paulista, a qual conheci no final dos anos 1970. Era uma região inóspita, a qual só tínhamos acesso por trilhas de terra batida entre uma praia e outra. O único rastro de civilização do local era um casarão, construído no canto norte da praia, provavelmente uma residência de veraneio de alguma família abastada, cuja origem ainda busco descobrir.
Foto aérea da praia de São Lourenço nos anos 1970
Hoje, a antes selvagem praia de São Lourenço, transformou-se em Riviera de São Lourenço, um conglomerado anunciado como centro de glamour e ostentação e, causa-me pesar saber que a natureza exuberante do local perdeu-se entre os prédios e condomínios de luxo, perda esta que serve como alerta a todos nós - seres humanos - imersos no ter e fazer, em detrimento do ser; crentes de que da natureza não somos parte.
A afirmação acima pode soar lugar-comum, mas vale ser lembrada, pois apesar de termos sido constantemente advertidos quanto à inversão de valores que permeia nossa sociedade e suas consequências, poucos se dão ao trabalho de rever suas prioridades. Cabe a reflexão; cabe o resgate.
Loteamento da Riviera de São Lourenço em 1988
A vida ao "ar livre e em contato com a natureza" na Riviera de São Lourenço
A um dia "pacata" Riviera
Veja abaixo matéria que mostra a "tranquilidade" da Riviera, publicada em 9/11/201.
Disponível na íntegra em:http://www.inconfidente.com.br/materia.asp?CodMat=23922
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Um grupo composto por pelo menos 15 pessoas explodiu cinco caixas eletrônicos instalados dentro de um shopping no condomínio de luxo Riviera de São Lourenço, em Bertioga, litoral norte de São Paulo. O crime aconteceu no final da madrugada deste sábado e a ocorrência foi registrada pela Polícia Civil às 6h30.
Boa reflexão, bom resgate,
Cláudia S. Coelho
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