AUTOBIOGRAFIA EM CINCO BREVES CAPÍTULOS
Estava em casa em uma tediosa manhã de domingo quando pus-me a pensar sobre a dificuldade em quebrar velhos hábitos arraigados - mesmo que tenhamos consciência do quão prejudiciais possam ser.
Eu até tinha algumas opções de lazer. Bem intencionada, no dia anterior havia feito uma lista de atividades prazerosas para conseguir sair da caverna de Platão que construíra para mim mesma.
No entanto, falhei.
Quando dei por mim, lá estava eu repetindo o mesmo padrão de comportamento.
E, então, folheando um dos milhares de escritos que tenho, deparei-me com o poema que se segue.
Teria sido coincidência?
pouco importa.
O que conta é o momento mágico em que me percebi retratada, assim como acredito que tantos irão, nas simples palavras abaixo.
1)
Caminho
pela rua.
Há um grande buraco na calçada.
Caio nele.
Estou perdido... desesperado.
A culpa não é minha.
Demoro uma eternidade para achar uma
saída.
2)
Caminho
pela mesma rua.
Há um grande buraco na calçada.
Finjo que não o vejo.
Caio no buraco outra vez.
Não consigo acreditar que esteja no
mesmo lugar.
Mas a culpa não é minha.
Ainda demoro um tempão para sair.
3)
Caminho
pela mesma rua.
Há um grande buraco na calçada.
Eu o vejo.
Ainda caio nele... é um hábito
Meus olhos estão abertos.
Sei onde estou.
A culpa é minha.
Saio imediatamente.
4)
Caminho
pela mesma rua.
Há um grande buraco na calçada.
Ando em torno dele.
5)
Caminho
por outra rua.
Portia
Nelson, 1980
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