CRÔNICA DO ORÁCULO DO PÃO DE 28 E 29 DE JANEIRO DE 2013
Ontem, em pleno domingão chuvoso, estava trabalhando no escritório de meu pai, quando este chegou com um belo vaso de flores para decorar a sala. Guardava comigo, o rascunho de alguns textos que havia escrito e que tinha a intenção de colocar em meu blog e a cópia de outros já postados. Por ser ele meu incansável revisor e crítico mordaz, daquele tipo que não poupa as palavras por estar falando com a filha – o que na realidade acho ótimo – resolvi colocar sob seu crivo um texto já publicado, mas sobre o qual ainda não tinha certeza se expressava o que eu realmente pretendia: o Oráculo do Pão de 25 de Janeiro, intitulado “Ação e Reação”.
“Ao sermos agredidos temos duas opções:
revidar na mesma medida,
ou oferecer a outra face;
ofertando ao próximo,
aquilo que nos foi negado.”
Ele leu, aprovou – Ufaaa!. Mesmo assim, fiz a pergunta que não queria calar:
- Na sua opinião, quem é “o próximo”?
E ele respondeu:
-O agressor.
Sim pode ser, mas não era exatamente o que eu queria dizer. O próximo, a meu ver, teria de representar qualquer indivíduo. Mas, não foi isso que meu pai, e todas as pessoas para quem li o texto entenderam. Portanto, não era um erro de interpretação, mas, ao contrário, de expressão. E ao explicar para meu pai qual tinha sido minha intenção, ele, sabiamente, disse:
- Você tem de escrever outro texto.
Exatamente por isso decidi contar a você como essa ideia me ocorreu.
Exatamente por isso decidi contar a você como essa ideia me ocorreu.
Já há algum tempo trabalhei em uma empresa com um chefe irascível que agredia não só verbalmente, mas também com atitudes, todos a seu redor, inclusive eu. É óbvio que tal comportamento gera tensão, e como ação gera reação vi-me tentada a revidar, assim como os outros faziam. Mas qual não foi minha surpresa quando me percebi calando e, em contrapartida, agindo de modo cada vez mais gentil - talvez por ter sentido na carne a falta que faz ser tratado com delicadeza. Ao agir dessa forma, toda a raiva que por instantes tomou conta de mim, esvaiu-se, transmutou-se, dando espaço para que o melhor de mim se manifestasse.
Há várias interpretações do texto bíblico “oferecer a outra face”. Não é fácil ser cordato com quem nos agride, deixar de lado o rancor, perdoar, principalmente quando somos sensíveis a ponto de perceber que toda essa agressividade não é direcionada diretamente a nós, mas sim fruto de uma história de vida a qual não podemos, nem nos compete querer mudar.
Portanto, enquanto não for possível oferecer a outra face a alguém que o magoou, dê o melhor de si aos que lhe são próximos. Acredito, por experiência própria, que com o passar do tempo, a ofensa sofrida no passado pouco a pouco perderá sua importância e você conseguirá oferecer a outra face ao agressor e sentir, por fim, a libertação que livrar-se da mágoa, da raiva, do rancor e do ressentimento nos traz.
Com minha melhor face,
Cláudia Coelho
Nenhum comentário:
Postar um comentário