sábado, 16 de fevereiro de 2013


ORÁCULO DO PÃO DE 15 E 16 DE FEVEREIRO DE 2013



EXPECTATIVAS


“Insisti por tanto tempo,
em correr atrás do tempo,
que perdi o tempo,
de viver no momento.”


Cláudia Coelho


Estes versos tiveram origem em uma brincadeira que fiz dias atrás com um grande amigo, que apesar de exercer um ofício extremamente técnico é apaixonado por línguas.

Estava eu a lhe explicar como os fonemas tem um potencial expressivo que transmitem sensações, em especial os sons consonantais, contrastando as consoantes “líquidas”, “suaves” como o “l” e “lh”, em “mulher de ilhargas largas”, que transmitem sensualidade; com o “t”, uma consoante que transmite opressão, obstáculo, dificuldade, quando criei os versos acima.

Em seguida, sem pestanejar, ele me disse: “Escreve, Cláudia, para não perder a ideia”.

Passei os dias seguintes com essa pequena estrofe em minha cabeça; pensando sobre o que eu queria expressar, sobre como poderia expressar – ruminando... e, por fim, hoje compreendi o que queria: falar sobre a necessidade de estar no aqui e agora, sem expectativas.

Hoje participei de um processo seletivo em uma escola sobre a qual havia criado grandes expectativas. Já havia passado por todos os testes de conhecimento linguístico, pedagógico; participado de uma dinâmica de grupo e essa seria a última etapa. 

Acordei tranquila, o que é raro - pois sou uma ansiosa de carteirinha. Dirigi-me à escola fazendo exercícios de respiração e vocalizes e estava esperançosa; achava que finalmente tinha encontrado um lugar onde teria condições de crescer profissionalmente: sério, mais comprometido com a qualidade do que com a quantidade, com uma gama de opções para o professor se desenvolver.



 


Qual não foi minha surpresa ao me ver sentada em uma sala hi-tech, assistindo à uma apresentação extremamente profissional, muito bem organizada, cronometrada, mas que me fez sentir como se eu estivesse em uma grande corporação na qual o humano é citado como mais um dos índices que contribuíram para o faturamento do ano anterior.

Esse episódio, apesar de parecer banal, foi-me muito importante.

Saí de lá um tanto decepcionada e ao entrar em meu carro lembrei-me da pequena estrofe que escrevi acima; versos simples, mas que para mim dizem muito, e, também, do título de um livro que me foi dado por uma amiga, com quem perdi contato, mas cujas palavras sempre estarão presente em minha vida: “O Negócio é Ser Pequeno – Um Estudo de Economia que Leva em Conta as Pessoas”.

No caminho de volta, o trânsito estava terrível. Além de ser sexta-feira, por conta da tempestade que havia caído sobre a cidade no dia anterior, o trânsito estava terrível. E, no entanto, apesar de avessa a ficar dentro de um carro parada por mais 15 minutos, não me importei; estava em paz comigo e  valorizando a pessoa que me tornei – apesar dos tropeços, apesar de às vezes me sentir solitária, cheguei aos 50 anos sendo uma pessoa coerente com seus princípios, íntegra e - desculpem-me o lugar comum - alguém que coloca a cabeça no travesseiro e dorme em paz.



Com amor e integridade,
Cláudia Coelho

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