segunda-feira, 3 de junho de 2013

DESABAFO DE 19 DE MAIO DE 2013




 Conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade.

Etimologia: subst. lat. ethìca 'ética, moral natural etc.', do adj. gr. éthikós, fem. sing. éthikê  'ético, relativo à moral', substv. no neutro pl.  éthicá 'tratado sobre a moral, ética'.


Hoje aprendi a duras penas que a falta de ética é mais uma das epidemias do século XXI!!!

Sei que parece lugar comum, afinal, não é de hoje que se fala sobre a falta de ética em todos os níveis – eu mesma já discorri sobre esse assunto. No entanto, quando somos atingidos em nossa integridade, nos sentimos violentados; nosso espírito sofre. 


 Infelizmente, assim como a maioria de nós, eu já havia chegado a um ponto em que ausência de qualquer rastro de ética na política, nas relações profissionais, sociais, internacionais... - a lista é extensa - não mais me chocava. Todos os dias, sentava-me anestesiada, entorpecida, em frente à TV para assistir aos noticiários e ser bombardeada pela miséria e degradação de nossa sociedade em seu sentido lato – não que fatos como a tragédia de Santa Maria não tenham me chocado, assim como a tantas outras pessoas, mas parece ser preciso uma calamidade para sairmos de nossa zona de conforto. “Hoje as coisas são assim”, tornou-se dito popular. Vivemos no mundo do ‘salva-se quem puder’ – a palavra de hoje, amanhã nada vale; a violência e a impunidade imperam; valores como o amor, a família - antes estruturas da sociedade - cederam lugar ao poder, ao status e ao sucesso; a ética e a moral parecem, mais do que conceitos em extinção, ideias ultrapassadas...



Portanto, foi com alegria que há cerca de uma semana assisti a uma aula sobre autoética no NEMESS - Núcleo de Estudo e Pesquisa Sobre Ensino e Questões Metodológicas em Serviço Social da PUC de São Paulo, ministrada pela professora Maria Lúcia Rodrigues, a qual só veio a confirmar meu conceito de ética: moral natural que suplanta a moral estabelecida pela sociedade e é formada pelos preceitos e valores individuais que norteiam nossas ações.  

A ética tem início no indivíduo, é um conceito que reside em nosso interior e transparece nas decisões que tomamos em nosso dia a dia, no modo como nos relacionamos com nossos semelhantes, com o mundo... É ela que nos dá subsídios para aceitar, ou não, as éticas formais e profissionais e embasa nossa ação no mundo.
A ética tem como base o caráter, a autocrítica, o discernimento e o pensamento crítico – este último item, em constante exercício e formação. 
   
Logo, não é sem pesar que, após ter assistido à preleção da professora Maria Lúcia, tive meus princípios éticos violados.   

Como você se sentiria - caso fosse uma professora, escritora, tradutora e revisora que sempre prezou seu ofício - se um tradutor lhe enviasse um texto para revisar e ficasse óbvio, após três horas de trabalho, em uma tarde de sábado, que a única coisa que seu “colega” fez foi colocar o original no Google tradutor, sem nem se preocupar em “dar um tapa”?

Bem, não sei como você se sentiria. A única coisa que posso relatar é como me senti: subestimada, ultrajada e atônita.

Subestimada, pois ele achou que eu não perceberia que o texto encaminhado fora gerado por uma máquina; ultrajada, pois a atitude do suposto tradutor foi contra todos os meus princípios éticos e, por fim, atônita, pois qualquer profissional que se preze sabe que um computador, por mais moderno que seja, não tem a capacidade de traduzir um texto que respeite as regras gramaticais ou a precisão do vocabulário da língua alvo, de compreender o contexto, etc. etc. e tal. Gosto de fazer a seguinte pergunta em minhas aulas: “Como você traduziria - ‘É uma manga?’”. Estou falando sobre a “manga” fruta ou sobre a “manga” de camisa?



Não sei se minha reação foi exacerbada. Costumo ouvir e ler com frequência que não devemos nos deixar incomodar e perder nosso tempo e energia com coisas e pessoas que não nos tragam nada de positivo; concordo, mas ainda não atingi esse estágio de perfeição – algumas coisas ainda me “pegam”.

O ofício do tradutor implica, antes de tudo, em fidelidade – não, necessariamente, às palavras, mas ao sentido do texto, à mensagem e ao estilo do autor - demanda pesquisa, precisão – como tal expressão seria articulada na língua alvo? Como determinada marca cultural pode ser melhor compreendida pelo público ao qual o texto se destina? O texto está bem redigido? Essas são apenas algumas das perguntas que acompanham o tradutor em seu trabalho.


Traduzir é um quebra-cabeça que demanda apuro, dedicação; a ponte necessária para que milhares de pessoas tenham acesso a inúmeras obras da literatura internacional, material de pesquisa, trabalhos acadêmicos...

Certa vez ouvi de uma professora uma frase que nunca deixou de me “perseguir”: “Uma tradução não pode ter sotaque!”. Acredito que escutar o seguinte elogio: “Nossa! Nem parece tradução”, após intermináveis horas de trabalho, seja um dos grandes prazeres de um tradutor. Pelo menos para mim o é.

 Exatamente, por isso, fico indignada ao receber um texto para revisar que, além de fugir de todos os parâmetros de uma boa tradução, demonstra o descaso e a incompetência do “dito” tradutor, sua falta de ética profissional e acima de tudo de autoética.

Para que a ética seja cultivada e vivenciada nas relações familiares, sociais e profissionais é imperativo que, acima de tudo, cultivemos um viver ético, reflitamos sobre nossas idéias e convicções e exercitemos a autocrítica.  


A máxima socrática, “Conhece-te a ti mesmo”, é o único caminho possível para se atingir a verdade e traduz o conhecimento necessário para conseguirmos resolver conflitos internos e modificar nossa relação conosco, com o próximo e com o mundo.

Por um viver ético,


Cláudia Coelho

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