A ATUALIDADE DO MITO DE PLATÃO
(Assista ao vídeo, leia a história e a interpretação de Marilena Chauí)
O MITO DA CAVERNA OU O DIÁLOGO DE SÓCRATES E GLAUCO
Trata-se de um diálogo metafórico onde as falas na primeira pessoa são de Sócrates e seu interlocutor, Glauco,um dos irmãos mais novos de Platão. No diálogo, é dada ênfase ao processo de conhecimento, contrastando a visão de mundo do ignorante, baseada no senso comum, e a do filósofo, na eterna busca da verdade.
Sócrates – Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma pequena fresta aberta à luz. Esses homens estão aí desde a infância, com as pernas e pescoço acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver nada além do que está diante deles, pois as correntes os impedem de voltar a cabeça para o lado. A luz chega-lhes por meio de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles e, entre o fogo e os prisioneiros, há uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada há um alto muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas.
Glauco – Estou vendo.
Sócrates – Imagina agora, que ao longo dessa estrada, homens transportam objetos de toda espécie: estatuetas de homens e animais feitas de pedra, madeira e de toda espécie de material. Naturalmente alguns transportadores conversam entre si; outros seguem em silêncio.
Glauco - Um quadro estranho e estranhos prisioneiros.
Sócrates — Que se assemelham a nós, pois nada viram além de sombras projetadas pelo fogo na parede da caverna.
Glauco — Como poderia ser diferente se são obrigados a ficar com a cabeça imóvel durante toda a vida?
Sócrates — Portanto, mesmo que se comunicassem uns com os outros tomariam por objetos reais as sombras que viam.
Glauco — É bem possível.
Sócrates — E se a parede do fundo da prisão provocasse tamanho eco, sempre que um dos homens que passasse por essa estrada ao fundo da caverna falassem, não julgariam eles ser esse o som transmitido pelas sombras que passavam diante deles?
Glauco — Sim, por Zeus!
Sócrates — Dessa forma, tais homens não acreditarão ser real as sombras que veem e os sons que ouvem?
Glauco — Assim há de ser.
Sócrates — Considera agora que um dos prisioneiros, inconformado com a condição que se encontra decide abandoná-la. Ele se liberta dos grilhões, e parte em direção à luz. De início move a cabeça, depois o corpo todo e, por fim, avança na direção do muro e o escala. Em um primeiro momento a luz lhe cega; o corpo todo dói após anos de prisão, mas ele segue adiante. Como acreditas que ele se sentirá ao se conscientizar de que até o momento vira, nada além de fantasmas, mas que agora, mais perto da realidade e voltado a objetos mais reais, vê com mais justeza?...
Sócrates – Ele terá, creio eu, necessidade de se habituar a ver os objetos de um ponto de vista superior. A princípio, conseguirá distinguir mais facilmente as sombras; em seguida, as imagens dos homens e dos outros objetos que se refletem nas águas e por último, os próprios objetos.
Glauco - Sem dúvida.
Sócrates - Por fim, suponho eu, ele conseguirá contemplar o próprio Sol e não as imagens refletidas nas águas ou em qualquer outra coisa. .
Glauco - Concordo.
Sócrates – O próximo passo será conscientizar-se de que o Sol, que determina as estações ao longo dos anos, governa tudo no mundo visível e que, de certa maneira, é a causa de tudo o que se vê.
Glauco - Concordo com a tua opinião, até onde posso compreendê-la.
(Platão. A República. Livro VII)
Para tornar o texto mais palatável descrevi o desfecho do Mito da Caverna de acordo com o relato de Marilena Chauí (2008).
Aos pouco, conscientiza-se que estivera prisioneiro a vida toda e que nada mais vira a não ser sombras. No entanto, mesmo desejando nunca mais retornar à caverna, movido pelo desejo de ajudar seus companheiros, retorna ao subterrâneo sombrio para contar aos demais o que vira e convencê-los a se libertar também.
Mas o que acontece? Os prisioneiros zombam dele e por não conseguir silenciá-lo com suas caçoadas, eles o espancam. Mesmo assim ele teima em afirmar o que viu e os incita a sair da caverna. Uma decisão arriscada. Ele provavelmente será morto por aqueles que se negam a ouvi-lo, mas ainda resta uma possibilidade: a de ser seguido por aqueles que compreendem seu chamado e decidem partir rumo à realidade.
Há diferentes interpretações para o fim dessa narrativa: algumas dizem que o prisioneiro que encontrou a luz foi morto; outras deixam a conclusão em aberto. Prefiro deixar ao leitor a conclusão da história e se algum dia obtiver uma resposta a esse impasse que me satisfaça com certeza a partilharei com vocês.
Há, também, diferentes interpretações, todas plausíveis, para as personagens e figuras desta alegoria – uma narrativa que expressa pensamentos, ideias e sentimentos de forma figurada; similar às parábolas de Cristo. No entanto, vou me restringir à interpretação de Marilena Chaui, apresentada em seu livro Convite à Filosofia, com a qual corroboro e está em consonância com a visão de Saramago apresentada no post abaixo:
- O que é a caverna? O mundo das aparências em que vivemos.
- Que são as sombras projetadas no fundo? As coisas que percebemos.
- Que são as corrente, os grilhões? Nossos preconceitos e opiniões, aquilo que
Percebemos como sendo realidade.
- Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O filósofo, aquele que
pensa o mundo.
- O que é o Sol? A verdade.
- O que é o mundo iluminado pelo Sol? A realidade.
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