ORÁCULO DO PÃO DE 07 E 08 DE FEVEREIRO DE 2013
ESCLARECIMENTO
( subst. masc: que elucida, torna compreensível)
AMIGOS TRADUTORES E CURIOSOS LEIAM O "PS" NO FINAL DO POST: UM TEXTO DE VIRGINIA WOOLF SOBRE O OFÍCIO DO TRADUTOR
AMIGOS TRADUTORES E CURIOSOS LEIAM O "PS" NO FINAL DO POST: UM TEXTO DE VIRGINIA WOOLF SOBRE O OFÍCIO DO TRADUTOR
Algumas amigas têm me procurado em virtude do desabafo do Oráculo do Pão de 05 e 06 de fevereiro de 2013, no qual menciono meu desagrado com o “Universo Tradutório”.
Primeiramente, deixei claro em meu blog que não pretendo parar de traduzir ou escrever meus próprios textos - atividades que me dão o maior prazer - só não quero continuar a “traduzir por atacado” e ser obrigada a aceitar qualquer trabalho. A maioria dos tradutores que conheço também exerce atividades paralelas.
Adoro lecionar e voltar a trabalhar como professora – atividade que exerço com muito orgulho há mais de 15 anos - não significa desistir, mas sim criar alternativas, abrir meu leque de opções.
Certo dia, uma grande amiga, também tradutora, comentou: “Cláudia, você é uma mulher plural!”.
Concordo inteiramente com ela e decidi fazer uso desse talento.
Já trabalhei como bailarina, atriz, massoterapeuta, assistente executiva em uma multinacional... estudei percussão, desenho, escultura... e cada um desses afazeres me acrescentou algo de novo, ampliou minha visão de mundo e o que aprendi com essas experiências se expande em tudo que faço.
O ofício do tradutor costuma ser visto com certo glamour, mas como qualquer outro, tem seus prós e contras: demanda dedicação, empenho e cuidado "artesanal" no tecer e escolher das palavras.
De modo geral, só tradutores entendem tradutores.
Tradução a Ponte Necessária
(título de livro de José Paulo Paes)
Com abraços esclarecedores,
Cláudia Coelho
PS: Descrição acurada do ofício do tradutor
Um pequeno vinco se acentua entre suas sobrancelhas. Enquanto lê, franze a fronte. Lê, faz anotações e, em seguida, relê; ignorando todos os sons ao redor. Nada vê diante de si, exceto o grego. Entretanto, ao prosseguir a leitura, seu cérebro pouco a pouco desperta; e ele sente algo intenso e preciso tomando forma em sua mente. Ao fazer uma pequena anotação na margem, percebe que encadeia as frases com precisão e firmeza, com mais precisão que na noite anterior. Palavras, antes insignificantes, revelam nuances que alteram o significado. Faz outra anotação; eis o significado. Vibra com sua argúcia em desvendar o pleno sentido da frase, o qual está ali, claro, intacto. Mas, ele tem que ser preciso, exato; até mesmo suas anotações escrevinhadas devem ser tão claras quanto letras impressas. Recorre a um livro; depois a outro e, depois, com os olhos fechados, recosta-se para olhar - não pode permitir que nada se perca na imprecisão. Os relógios começam a bater. Ele ouve. Os relógios continuam a bater. As marcas de seu rosto se suavizam; ele se reclina, os músculos relaxam, o olhar abandona os livros e se perde nas sombras. Tem a sensação de estar estirado sobre a grama após uma corrida; e, então, por um instante, parece-lhe ainda estar correndo, uma vez que, sem o livro, sua mente viaja sem restrições por um mundo de puro significado; mas que gradualmente vai perdendo o significado. Os livros se destacam contra a parede, ele observa a encadernação creme e as papoulas no vaso azul. Por fim, ao soar da última badalada, suspira e levanta-se.
Um pequeno vinco se acentua entre suas sobrancelhas. Enquanto lê, franze a fronte. Lê, faz anotações e, em seguida, relê; ignorando todos os sons ao redor. Nada vê diante de si, exceto o grego. Entretanto, ao prosseguir a leitura, seu cérebro pouco a pouco desperta; e ele sente algo intenso e preciso tomando forma em sua mente. Ao fazer uma pequena anotação na margem, percebe que encadeia as frases com precisão e firmeza, com mais precisão que na noite anterior. Palavras, antes insignificantes, revelam nuances que alteram o significado. Faz outra anotação; eis o significado. Vibra com sua argúcia em desvendar o pleno sentido da frase, o qual está ali, claro, intacto. Mas, ele tem que ser preciso, exato; até mesmo suas anotações escrevinhadas devem ser tão claras quanto letras impressas. Recorre a um livro; depois a outro e, depois, com os olhos fechados, recosta-se para olhar - não pode permitir que nada se perca na imprecisão. Os relógios começam a bater. Ele ouve. Os relógios continuam a bater. As marcas de seu rosto se suavizam; ele se reclina, os músculos relaxam, o olhar abandona os livros e se perde nas sombras. Tem a sensação de estar estirado sobre a grama após uma corrida; e, então, por um instante, parece-lhe ainda estar correndo, uma vez que, sem o livro, sua mente viaja sem restrições por um mundo de puro significado; mas que gradualmente vai perdendo o significado. Os livros se destacam contra a parede, ele observa a encadernação creme e as papoulas no vaso azul. Por fim, ao soar da última badalada, suspira e levanta-se.
Extraído de “Os Anos”, Virginia Woolf, 1937.
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